terça-feira, 27 de março de 2007


Em nome da tua ausência
Construí com loucura uma grande casa branca
E ao longo das paredes te chorei.

Sophia Mello Breyner Andresen

quinta-feira, 22 de março de 2007

Bleu II


A descoberta da Arte...

Embriaguez

embriagavas-me tanto com(o) o doce vinho branco que me ensinaste a apreciar que eu derramava generosamente nos copos de cristal comprados a propósito embora não fossem realmente de cristal gostavas desses copos tanto como eu e agora enchem-se de pó e esquecimento num canto do meu sótão vazio sem as espirais de fumo dos teus cigarros pensados lentamente a seguir ao deleite dos corpos sob a luz das estrelas envolvidos que estávamos na escuridão celestial do prazer
embriagavas-me de palavras e de silêncios na imensidão das noites partilhadas e deixávamos que o delírio da criação nos inflamasse até à exaustão dos sentidos até a mediocridade lá fora se tornar tão insuportável como uma peça de roupa que arranha o corpo e que despíamos para experimentar a embriaguez da pele quente
embriagavas-me no silêncio de uma música nossa os meus gestos presos ao infinito sempre à espera deste inevitável a tua mão na minha sempre a acalmar os meus demónios afinal eu adivinhava a mentira que tu vestiste com estonteante leveza como se eu não fosse a (única) pessoa que te estava no sangue
a minha embriaguez eras tu 48 horas de um dia vivido a dobrar por ti e por mim
embriagavas-me (apenas) com o teu olhar que permanece tatuado em mim e nesse torpor eu acreditava em tudo e queria tudo como se pudesse querer tudo como se me fosse permitido ter tudo
embriagavas-me tão simplesmente com o poder que tinhas para me embriagar
embriagavas-me os sentidos os meus olhos a brilhar na embriaguez desconcertante de te Amar
embriagavas-me com a tua sensualidade o toque aveludado dos teus dedos que nunca se enganavam deixavas-me ao rubro com o calor do teu corpo moreno de sol apertado no meu e os teus lábios que me devoravam ao mesmo tempo que falavam de eternidade calavam a fatalidade desta dor
e depois do vinho das palavras dos olhares do amor embriagava-me com o teu sémen oferecido como recompensa da minha loucura descontrolada por ti
embriagava-me quando te estava a perder e ainda não o sabia
embriaguei-me sozinha quando descobri como abrir as portas que te seduziam mais do que eu até não me reconhecer tanto tinha mudado porque me ensinaste a aprender e a ver na sombra dos teus olhos e um dia como Rimbaud eu vi a Beleza e como Rimbaud eu a acolhi no meu regaço
tentava embriagar-me quando te esquecias de mim para me esquecer que te esquecias de mim eu acabava por adormecer bêbeda de sono e cansaço as lágrimas a rasgarem-me a face sempre a arderem-me nos olhos equivocados
confesso: estive sempre embriagada, mas não era do doce vinho branco que te servia em copos de cristal que afinal não eram de cristal era de ti…

sexta-feira, 9 de março de 2007

Utopia


Absolut e Coincidências.

Traços...

Traços de luz, memórias de ti...
Por J.M.