domingo, 5 de dezembro de 2010

Nadir Afonso

Gôndolas

 Gardénias

Aurea Purpurea

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

"A raiva dos Iluminados"



Filme do Desasssossego, João Botelho, 2010


Tenho que escolher o que detesto - ou o sonho, que a minha inteligência odeia, ou a acção, que a minha sensibilidade repugna; ou a acção, para que não nasci, ou o sonho, para que ninguém nasceu.
Resulta que, como detesto ambos, não escolho nenhum; mas, como hei-de, em certa ocasião, ou sonhar ou agir, misturo uma coisa com outra.

Sem ilusões, vivemos apenas do sonho, que é a ilusão de quem não pode ter ilusões.

Ah, quem me salvará de existir? Não é a morte que quero, nem a vida: e aquela outra coisa que brilha no fundo da ânsia como um diamante possível numa cova a que se não pode descer.

Bernardo Soares, Livro do Desassossego

sábado, 23 de outubro de 2010

Life...

Miró's cat encircled by the flight of a bird, Joan Miró



Life isn´t about finding yourself. Life is about creating yourself.

Bernard Shaw

A um Estado D'Alma


Ser de sonho, de paixão, de encantamento, com a força do sol, do vácuo, da matéria e do éter. Ser perturbado...

Não sendo aparentemente real, é a parte mais real, porque é a que Vive.

Pura, verdadeira, intacta e inteira...
Surreal, irreal. Paira neste mundo numa dimensão paralela, superior.

Alma complexa, intrincada, solitária. Plena de luz e escuridão, som e silêncio, vida e morte.

Alimenta-se da intensidade das coisas vividas e sentidas.

Acesa pela Arte. Nada é vazio, nada é fútil.

Odeia banalidades. recusa concessões, ajustes forçados, tristezas acomodadas, mais-ou-menos ou assim-assim.

Procura incessantemente a essência do que vale a pena.

Busca sintonia no desassossego. Alma infinita, ilimitada.

Vive para a contemplação da Beleza. Espontaneidade prenha de liberdade e verdade.

Abraça a loucura e o turbilhão.

Quer ser tocada até ao mais íntimo da alma, fundir-se na vaga, fragmentar-se na vertigem da queda e reconstruir-se no instante seguinte.

Impossível resistir ao assalto de emoções.... Impossível evitar caminhar à beira do abismo, mergulhar na paixão, agarrar sofregamente cada faúlha de beleza.

Nada é equilíbrio, tudo é movimento acelerado em direcção aos extremos.

Efémera, deseja somente permanecer imaginada.

Não cala a inevitabilidade de tudo isto...

Renasce no local onde a espuma do mar e o sal se fundem.

É preciso renascer... em breve é preciso renascer.

O presente é este: sentir e viver mesmo que seja no gume afiado do inatingível.

sábado, 2 de outubro de 2010

Alma e sinfonia



Minha alma é uma orquestra oculta; não sei que instrumentos tangem e rangem, cordas e harpas, timbales e tambores, dentro de mim. Só me conheço como sinfonia.

Bernardo Soares, Livro do Desassossego


sexta-feira, 1 de outubro de 2010

terça-feira, 21 de setembro de 2010

O jardim das maravilhas



The picture should be fecund. It must bring a world to birth.

Painting or poetry is made as one makes love - a total embrace, prudence thrown to the winds, nothing held back.

Joan Miró

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Walk!


Ampelmännchen, Berlim

The sky over Berlin...



Der himmel über Berlin, Wim Wenders, 1987

domingo, 15 de agosto de 2010

A indecisão...


Sangue Livre, UtopiaTeatro, 1999

"Uma menina percorre uma linha de comboio trazendo consigo uma bandeira vermelha. Vem assustada, receosa. Deve ou não atravessar a linha do comboio?..."

sábado, 31 de julho de 2010

My Foolish Heart...



My Foolish Heart, Bill Evans

quarta-feira, 28 de julho de 2010

A Estrada




A Estrada, Rodrigo Leão

Há quem tenha a profunda convicção que todas as histórias de amor estão condenadas à infelicidade... eu (ainda) não penso assim...

E se ao fim de vários anos tudo continua tão estimulante e apaixonante  como no primeiro dia?...

Ama como a estrada começa.
Mário Cesariny

Se a estrada é longa ou um beco sem saída depende de quê ou de quem?...

sábado, 24 de julho de 2010

São garças, senhor! São garças!

http://grlima.blogspot.com/2009/07/garca-boieira-carraceiro.html

Garça-boieira, Bulbucus ibis

A matarroanice e a ignorância são maiores do que se podia imaginar...

domingo, 11 de julho de 2010

O equilíbrio...



"Os instantes mais dolorosos de nossa vida são aqueles que nos revelam a nós mesmos."

"Se estiveres no caminho certo, avança; se estiveres no errado, recua."

"A alma não tem segredo que o comportamento não revele."

Lao Tse, Tao Te Ching

domingo, 27 de junho de 2010

Sempre...


Viajante diante do mar de nuvens,
C. D. Friedrich, 1818


A viagem não acaba nunca. Só os viajantes acabam. E mesmo estes podem prolongar-se em memória, em lembrança, em narrativa. Quando o visitante sentou na areia da praia e disse:


“Não há mais o que ver”, saiba que não era assim. O fim de uma viagem é apenas o começo de outra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na primavera o que se vira no verão, ver de dia o que se viu de noite, com o sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava. É preciso voltar aos passos que foram dados, para repetir e para traçar caminhos novos ao lado deles. É preciso recomeçar a viagem. Sempre.
 
José Saramago

sexta-feira, 30 de abril de 2010

domingo, 25 de abril de 2010

Grândola, vila moribunda



Parece que em 1964, quando esta música foi composta por Zeca Afonso, Grândola era uma terra de fraternidade, igualdade e amizade. Uma terra de gente pensante, revolucionária, onde era  o povo quem mais ordenava. Uma terra de gente que sonhava com a liberdade...
Hoje, Grândola é uma terra de gente analfabeta, embrutecida, individualista, presa dentro de si e sem um único sonho...
Um retrato do país, (apenas) 36 anos depois do 25 de Abril...

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Momentos...



A Single Man, Tom Ford, 2009


George: A few times in my life I've had moments of absolute clarity, when for a few brief seconds the silence drowns out the noise and I can feel rather than think, and things seem so sharp and the world seems so fresh. I can never make these moments last. I cling to them, but like everything, they fade. I have lived my life on these moments. They pull me back to the present, and I realize that everything is exactly the way it was meant to be.



Experience is not what happens to a man; it is what a man does with what happens to him.

Texts and Pretexts, Aldous Huxley

About impossible things...


Alice laughed, "There's no use trying," she said, "one can't believe impossible things."

"I daresay you haven't had much practice," said the Queen. "When I was your age, I always did it for half-an-hour a day. Why, sometimes I've believed as many as six impossible things before breakfast."

domingo, 4 de abril de 2010

Ao meu alter-ego...

 
 
http://poesianuncademais.blogspot.com/2009/07/espuma-do-mar.html
 
Sou o Espírito da treva,

A Noite me traz e leva;
Moro à beira irreal da Vida
Sua onda indefinida
Refresca-me a alma de espuma...
Pra além do mar há a bruma...

E pra aquém? Há Cousa ou Fim?
Nunca olhei para trás de mim...

Fernando Pessoa

Jardim do Éden


Jardim do Éden, Joana Vasconcelos, 2007

Lev e Cora dirigiram-se à outra exremidade da nave para inspecionarem o jardim de Diodeas Cretianas. Depois da travessia agitada através dos campos de radiação estelar de Aruse, os exobiólogos estavam preocupados com o estado fisiológico das preciosas e sensíveis "plantas" que forneciam oligoelementos essenciais a toda a tripulação da Odyssey...

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Palavras emprestadas...


um Amigo contou a história "Viveste em mim...", as suas palavras encerram tudo o que pode ser dito e sentido... vou pedi-las emprestadas... não saberia fazer melhor
esta é a música que acompanha as suas palavras, um diálogo em crescendo entre os instrumentos... e no final um remate sereno e firme
uma música comovente, intensa, melancólica mas libertadora, a música dos pontos finais e das certezas...

afinal ainda sou eu, a minha sensibilidade está intacta...

sábado, 27 de março de 2010

Ouvi Dizer...



Ouvi dizer que o nosso amor acabou.
Pois eu não tive a noção do seu fim!
Pelo que eu já tentei,
Eu não vou vê-lo em mim:
Se eu não tive a noção de ver nascer um homem.
E ao que eu vejo,
Tudo foi para ti
Uma estúpida canção que só eu ouvi!
E eu fiquei com tanto para dar!
E agora
Não vais achar nada bem
Que eu pague a conta em raiva!

E pudesse eu pagar de outra forma!

Ouvi dizer que o mundo acaba amanhã,
E eu tinha tantos planos pra depois!
Fui eu quem virou as páginas
Na pressa de chegar até nós;
Sem tirar das palavras seu cruel sentido!
Sobre a razão estar cega:
Resta-me apenas uma razão,
Um dia vais ser tu
E um homem como tu;
Como eu não fui;
Um dia vou-te ouvir dizer:

E pudesse eu pagar de outra forma!
Sei que um dia vais dizer:
E pudesse eu pagar de outra forma!

A cidade está deserta,
E alguém escreveu o teu nome em toda a parte:
Nas casas, nos carros, nas pontes, nas ruas.
Em todo o lado essa palavra
Repetida ao expoente da loucura!
Ora amarga! Ora doce!
Pra nos lembrar que o amor é uma doença,
Quando nele julgamos ver a nossa cura!

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Certezas e incertezas...



The Bridges of Madison County, Clint Eastwood, 1995

de vez em quando surge inesperadamente... o momento, a pessoa, o sentimento, a viagem...
depois...  a realidade impõe-se e abate-se sobre nós como um temporal
só resta a perda, a tristeza e um vazio do tamanho do mundo...

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

em busca do artista... em Londres

http://www.royalacademy.org.uk/exhibitions/vangogh/

Love many things, for therein lies the true strength, and whosoever loves much performs much, and can accomplish much, and what is done in love is done well.
Van Gogh

domingo, 10 de janeiro de 2010

Solaris

http://ontheverge.files.wordpress.com/2008/03/solaris.jpg

Solaris, Andrei Tarkovski, 1972

quando lançamos questões ao Cosmos, o Cosmos responde-nos com os nossos medos, sonhos e esperanças...

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Pale Blue Dot...




Quando é preciso relativizar... não há palavras mais inspiradoras...

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Amarras

http://wordsimages.blogspot.com/2006_02_01_archive.html

É preciso cortar as amarras... esse é o meu desejo para o ano novo...

Happy Christmas



Que bom seria se todos os sentimentos natalícios de amor, paz e solidariedade se prolongassem por todos os outros dias do ano...

terça-feira, 8 de dezembro de 2009

It's a strange day


It’s a strange day
No colours or shapes
No sound in my head
I forget who I am
When I’m with you
There’s no reason
There’s no sense
I’m not supposed to feel
I forget who I am
I forget

sábado, 28 de novembro de 2009

Onde estás, Mr. Lawrence?




Há dias assim... numa sucessão de acontecimentos, perde-se tudo...impossível parar, impossível controlar, impossível saber como vai ser amanhã...e nada faz sentido...
Onde estás, Mr. Lawrence?

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Bu, bu, bu...


A iMENSA mINORIA desaparecida...

António Sérgio, O Grande Delta e os inesquecíveis sons da noite...

domingo, 1 de novembro de 2009

You Are Welcome to Elsinore

http://dapoetica.blogspot.com/


Mário Cesariny, Homenagem a Luis Buñuel, 1968
 

YOU ARE WELCOME TO ELSINORE

Entre nós e as palavras há metal fundente
entre nós e as palavras há hélices que andam
e podem dar-nos morte violar-nos tirar
do mais fundo de nós o mais útil segredo
entre nós e as palavras há perfis ardentes
espaços cheios de gente de costas
altas flores venenosas portas por abrir
e escadas e ponteiros e crianças sentadas
à espera do seu tempo e do seu precipício

Ao longo da muralha que habitamos
há palavras de vida há palavras de morte
há palavras imensas, que esperam por nós
e outras, frágeis, que deixaram de esperar
há palavras acesas como barcos
e há palavras homens, palavras que guardam
o seu segredo e a sua posição

Entre nós e as palavras, surdamente,
as mão e as paredes de Elsinore

E há palavras nocturnas palavras gemidos
palavras que nos sobem ilegíveis à boca
palavras diamantes palavras nunca escritas
palavras impossíveis de escrever
por não termos connosco cordas de violinos
nem todo o sangue do mundo nem todo o amplexo do ar
e os braços dos amantes escrevem muito alto
muito além do azul onde oxidados morrem
palavras maternais só sombra só soluço
só espasmos só amor só solidão desfeita

Entre nós e as palavras, os emparedados
e entre nós e as palavras, o nosso dever falar

Mário Cesariny

sábado, 5 de setembro de 2009

Enquanto não atravessarmos a dor da nossa própria solidão, continuaremos a nos buscar em outras metades. Para viver a dois, antes, é necessário ser um.

Fernando Pessoa

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Ghent, 1996...


Rapariga com brinco de pérola, Johannes Vermeer, 1665 - 1666

quinta-feira, 2 de julho de 2009

O que há em mim é sobretudo cansaço

O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.

A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.

Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...

E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo, Cansaço...

Álvaro de Campos

domingo, 31 de maio de 2009

Few of us...


Few of us, Sharuna Bartas, 1996

A solidão e o silêncio...

sábado, 30 de maio de 2009

A extrema comoção

Todos os comboios te trazem até mim,
pequena luz do meu desassossego,
num sussurro de promessa inconfessada,
num desafio de pergunta sufocante.
Vais e voltas, audaz e indefesa,
na migração branda de todos os afectos
e é o instinto que me dá o teu nome o timbre e o tom das revelações que embriagam.
Nunca a distância pôs tão perto
a mão que treme e a tentação do lume.
Vais e voltas sem que o saibas
é por mim que vens e por ti que parto,
que o sentimento que sustenta estes dias
é volátil e breve como um pássaro de névoa,
como uma serpente de jade, como um fumo
de ópio num encontro contra o tempo
e a pressa com que o tempo se disfarça e aniquila.
Vais e voltas e é de mim que te apartas
nesse fogo de quereres estar não estando
nesta inquietude de seres gare e cais
quando tudo em ti pede que sejas apenas casa e corpo.
E como eu te imito, te repito e sigo
neste assombro de acordarmos em nós
o sobressalto da lava que faz do enlace
uma extrema e indefinível comoção.

José Jorge Letria

Desassossego...

"(...) o que é preciso é criar desassossego. Quando começamos a procurar alibis para justificar o nosso conformismo então está tudo lixado."

José Afonso

sexta-feira, 1 de maio de 2009




Cortaram os trigos. Agora

A minha solidão vê-se melhor.


Sophia de Mello Breyner Andresen

sábado, 25 de abril de 2009

Abril




Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo

Sophia de Mello Breyner Andresen

Este é o tempo para resistir e dizer não a outras ditaduras e outros ditadores.

domingo, 1 de março de 2009

Mulher na Lua...


Frau im Mond, Fritz Lang, 1929

É o homem que tem um ideal que vence todos os outros.

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

V.I.T.R.I.O.L.


Em memória de uma busca inacabada e de uma alma perdida...

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Uma nova visão...

http://www.fotothing.com/

Um lugar/ acontecimento que nos coloque em face de uma nova visão de nós mesmos e do que nos envolve, pela criação de uma relação intensa com o mundo.

N.R.

Em todas as ruas te encontro

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco

Mário Cesariny

domingo, 8 de fevereiro de 2009

Uma ideia de eternidade...







Jupiter and beyond the infinite...

2001, Space Odyssey, Stanley Kubrick, 1969

Geometria dos sentidos

Sei o que quero de ti: partilhar as visões de beleza e de escuridão. E sim, a infinita liberdade de quem sabe estar quase a tocar o divino. Essa é a matéria de que és feito.
Onde vês vazio, sinto plenitude; onde lamentas redundância, leio intensidade... A repetição das palavras, dos gestos, o pensar sobre o que já se pensou, fazer o que já foi feito, ver o que já foi visto...dependendo da sensibilidade e inteligência da pessoa, pode tornar-se a mais aborrecida das tarefas, ou uma explosão de fertilidade. Como espreitar pelas faces de um cristal, uma multiplicidade de perspectivas, jogos de luz e sombra, reflexões, refracções, geometria dos sentidos. Um universo em cada ideia, se a ideia contemplar o próprio universo. O gesto que abarca o mundo, se o mundo estiver contido na intenção do gesto. E os sentimentos maiores que a Vida...
Tu sabes tudo isto...
Preciso do teu regaço e do teu olhar.
Sim, o local onde a espuma do mar e o sal se fundem é meu...e teu...

domingo, 1 de fevereiro de 2009

há um tempo...

há um tempo para voar e um tempo para aterrar
há um tempo de mudança e há um tempo de estabilidade
há um tempo de tempestade e um tempo de acalmia
há um tempo para nos virarmos do avesso e viver tudo com intensidade até à saturação dos sentidos
há um tempo para não sentir
há um tempo de plenitude e um tempo de vazio
há um tempo para estar no olho do furacão e ser engolido por ele
há um tempo para admirar de fora a sua capacidade renovadora

haverá um espaço onde se cruzam? talvez...
há um tempo, algures no meio, para preparar o turbilhão
aprontar as asas para a largada e remendar as redes que nos apoiam na queda...

sábado, 31 de janeiro de 2009

Noites estreladas...


Nuit étoillée, Van Gogh, 1889

Um livro descoberto numa biblioteca no norte da Europa, um sotão acolhedor, muitos sonhos e tantas saudades de ti...

For my part I know nothing with any certainty, but the sight of stars makes me dream.
Van Gogh

Os amores existem para acabar cedo. O teu toque é veludo, mas as lembranças são lâminas.
In: Ode a Otília por J. M.

Continuo à espera...

Amo-te...será que sim? Pode o amor existir sem o seu objecto? Não sei realmente se te amo, mas sei que te amei muito. E se te visse? O amor que sinto agora parece abstracto, embate nessa parede e volta para trás, para o ninho de recordações, objectos, música, livros, odores... não o sinto na carne como antigamente. É como o som que não se pode propagar no vácuo por falta de matéria, que precisa de fazer vibrar partículas para existir. O presente é este vácuo. Pergunto-me se sinto realmente algum amor agora, neste exacto momento...ou se é a poderosa e prodigiosa memória a fazer as vezes dos sentidos?... A memória é pouco imune ao tempo... Quero acreditar que ainda te amo, com os sentidos. Fecho os olhos, impregno-me com força, mas nada. Nada se propaga. Nenhum arrepio na pele, nenhuma arritmia, nenhuma quebra da respiração...Só resta este vazio. Um vazio assim dentro de uma pessoa é a coisa mais triste que pode haver.

Continuo à espera que venhas...

Lunário

Estou sozinho, ardo na memória das noites em que não te conhecia. E não sei se suportarei o peso do teu rosto ausente sobre o peito, tatuado; e talvez recorde a tua respiração enforcando-me, noite após noite, enquanto durmo. Tua mão escavou o desejo entorpecido nestas débeis veias, e já não sei se sonhamos o mesmo sonho, ou se nos levantamos ao mesmo tempo para o amor, mas ainda te amo.

Aliso tuas pálpebras durante as noites de vigia e sei que uma vida anterior à minha presença as feriu. No entanto, sinto que ainda és capaz de me olhar como se eu contemplasse o mar. De resto, os dias acumulam-se uns sobre os outros, iguais, sob o negro esplendor do sol. E latejamos, além, onde nos perderemos para sempre.

As tuas mãos vestiram as minhas, e fizeram-nas voar de sedução em sedução. Mas, dentro das fotografias, erguem-se pirâmides de cintilantes ossos, pequenas nódoas de memórias, feixes de veias quebradas pelas chuvas...não, não é o solitário canto do noitibó que nos surpreende, nítido, persistente, mas sim o grito que há-de crescer do fundo de nós. E, com o tempo, as mãos, as tuas, cairão também no esquecimento...e delas apenas permanecerá uma sensação de ardor sobre a minha pele.

Na busca reacendo uma navalha de lume para sufocar a solidão e as palavras que já nada podem revelar, nem ajudar.

Mas se um dia voltares, acorda-me, como inesperadamente me acordaste uma noite. Não me deixes dormir mais, desperta-me e tudo se iluminará num gesto, num sorriso teu.

(...)

Regressa. Regressa ao escorrer dos dedos enrolados no sexo, ao riso matinal dos corpos saciados, às nocturnas conversas das esplanadas, aos jogos de sedução, aos engates, ao murmúrio das vozes nos becos da cidade, à ofegante trepidação da manhã, regressa. Porque as palavras não te substituem e estão cheias de pústulas no coração das sílabas.
Regressa e oferece-te à preguiça triste de quem continua aqui, vivo, sorvendo a espiral da sua própria ausência.
Regressa, peço-te, mesmo antes de partires. Regressa à voracidade do desejo, e à incendiada paixão dos nocturnos tigres...


Acordo para ti, como sempre acordei, cada manhã menos rico e mais esquecido de mim.

Lunário,  Al Berto

Metrópolis

http://www.dvdtimes.co.uk/

Metrópolis, Fritz Lang, 1930

O mediador entre as mãos e o cérebro deve ser o coração.
Ama como a estrada começa.

Mário Cesariny

quinta-feira, 18 de dezembro de 2008


Se eu pudesse
Ter-te em vez dos versos,
Ou ter um verso em vez de ti,
Ou ter os olhos
Como os de um gato
Para perscrutar a noite
Onde isso se decide.

Pedro Mexia

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

A morte de Cio-Cio-San

www.panoramio.com/
A noite passada fui a Paris comprar aquele Fulcanelli que encontrei à beira do Sena quando lá estive. Lembras-te?

Morrer é nada; difícil é perder-te...

Deixa-me pois. Que não se entristeça
a bela idade que de ansiedade te inflama
e por mim, em infantis impulsos, se demora.

Diz-me tu adeus, já que eu não posso.
Morrer é nada; difícil é perder-te.

Umberto Saba


Outras vezes seria mais simples

agora é apenas mais cruel

ter os braços soltos por dentro dos gestos
e mesmo assim não partir

Luís Moreira

A saudade...

Aí está a razão por que escreverei. Desenterrarei todas as minhas recordações, porque sou uma profanadora nata. E fá-lo-ei antes que o amor que te tenho desapareça tão inelutavelmente como a maré que deixa a praia molhada, juncada de inúteis destroços, antes que a natureza implacável feche a ferida que me tiveres feito e falsifique a emoção das palavras que tivermos pronunciado. Antes que me seja preciso reabrir as cicatrizes para as fazer verter sangue, essas insensíveis cicatrizes da tristeza e da alegria. Contarei como nos amámos e como lutámos para não sermos destruídos pelos pequenos nadas da existência. E como eles nos destruíram e como nós os esquecemos. Tal como toda a gente. Porque somos, nem mais nem menos que quaisquer outros, amantes efémeros e imperfeitos num mundo eternamente inconstante.

A Colina da Saudade, An Suyin

love is more thicker than forget

love is more thicker than forget
more thinner than recall
more seldom than a wave is wet
more frequent than to fail

it is most mad and moonly
and less it shall unbe
than all the sea which only
is deeper than the sea


love is less always than to win
less never than alive
less bigger than the least begin
less littler than forgive


it is most sane and sunly
and more it cannot die
than all the sky which only
is higher than the sky

e.e. cummings

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Something Changed

10 anos

Nunca ficamos com aquilo que amamos...
J.M.
30/11/2007

Elogio do Amor

Há coisas que não são para se perceberem. Esta é uma delas. Tenho uma coisa para dizer e não sei como hei-de dizê-la. Muito do que se segue pode ser, por isso, incompreensível. A culpa é minha. O que for incompreensível não é mesmo para se perceber.Não é por falta de clareza. Serei muito claro. Eu próprio percebo pouco do que tenho para dizer. Mas tenho de dizê-lo. O que quero é fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão.Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em “diálogo”. O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões.O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática.O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam “praticamente” apaixonadas.Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço.Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje. Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do “tá bem, tudo bem”, tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas.Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?O amor é uma coisa, a vida é outra.O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso “dá lá um jeitinho sentimental”.Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos.Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade.Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo.O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. é uma questão de azar.O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto. O amor é uma coisa, a vida é outra.A vida às vezes mata o amor. A “vidinha” é uma convivência assassina.O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima.O amor não se percebe. Não é para perceber. O amor é um estado de quem se sente.O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende.O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser.O amor é uma coisa, a vida é outra.A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz.Não se pode ceder. Não se pode resistir.A vida é uma coisa, o amor é outra.A vida dura a Vida inteira, o amor não.Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também.
por Miguel Esteves Cardoso in Expresso

terça-feira, 14 de agosto de 2007

domingo, 17 de junho de 2007

Dez mandamentos

1. Tu combaterás o teu conformismo.
2. Tu serás o mensageiro da liberdade.
3. Tu utilizarás a sexualidade.
4. Tu reinventarás a vida.
5. Tu elevarás a alma.
6. Tu oferecerás o tu amor.
7. Tu criarás uma arte artificial.
8. Tu perseguirás o teu objectivo.
9. Tu não serás exactamente o que és mas não deixarás de ser.
10. Tu darás qualquer coisa em troca.

Os sons que embalam a memória...


Perpetuum Mobile, Cafe Penguin Orchestra

sábado, 16 de junho de 2007

A realidade é alcoólica



Uma solidão demasiado ruidosa, Bohumil Hrabal

terça-feira, 8 de maio de 2007

Memória

Príncipe de melhores horas, outrora eu fui tua princesa e amámo-nos com um amor doutra espécie, cuja memória me dói.

Fernando Pessoa, Livro do Desassossego

terça-feira, 27 de março de 2007


Em nome da tua ausência
Construí com loucura uma grande casa branca
E ao longo das paredes te chorei.

Sophia Mello Breyner Andresen

quinta-feira, 22 de março de 2007

Bleu II


A descoberta da Arte...

Embriaguez

embriagavas-me tanto com(o) o doce vinho branco que me ensinaste a apreciar que eu derramava generosamente nos copos de cristal comprados a propósito embora não fossem realmente de cristal gostavas desses copos tanto como eu e agora enchem-se de pó e esquecimento num canto do meu sótão vazio sem as espirais de fumo dos teus cigarros pensados lentamente a seguir ao deleite dos corpos sob a luz das estrelas envolvidos que estávamos na escuridão celestial do prazer
embriagavas-me de palavras e de silêncios na imensidão das noites partilhadas e deixávamos que o delírio da criação nos inflamasse até à exaustão dos sentidos até a mediocridade lá fora se tornar tão insuportável como uma peça de roupa que arranha o corpo e que despíamos para experimentar a embriaguez da pele quente
embriagavas-me no silêncio de uma música nossa os meus gestos presos ao infinito sempre à espera deste inevitável a tua mão na minha sempre a acalmar os meus demónios afinal eu adivinhava a mentira que tu vestiste com estonteante leveza como se eu não fosse a (única) pessoa que te estava no sangue
a minha embriaguez eras tu 48 horas de um dia vivido a dobrar por ti e por mim
embriagavas-me (apenas) com o teu olhar que permanece tatuado em mim e nesse torpor eu acreditava em tudo e queria tudo como se pudesse querer tudo como se me fosse permitido ter tudo
embriagavas-me tão simplesmente com o poder que tinhas para me embriagar
embriagavas-me os sentidos os meus olhos a brilhar na embriaguez desconcertante de te Amar
embriagavas-me com a tua sensualidade o toque aveludado dos teus dedos que nunca se enganavam deixavas-me ao rubro com o calor do teu corpo moreno de sol apertado no meu e os teus lábios que me devoravam ao mesmo tempo que falavam de eternidade calavam a fatalidade desta dor
e depois do vinho das palavras dos olhares do amor embriagava-me com o teu sémen oferecido como recompensa da minha loucura descontrolada por ti
embriagava-me quando te estava a perder e ainda não o sabia
embriaguei-me sozinha quando descobri como abrir as portas que te seduziam mais do que eu até não me reconhecer tanto tinha mudado porque me ensinaste a aprender e a ver na sombra dos teus olhos e um dia como Rimbaud eu vi a Beleza e como Rimbaud eu a acolhi no meu regaço
tentava embriagar-me quando te esquecias de mim para me esquecer que te esquecias de mim eu acabava por adormecer bêbeda de sono e cansaço as lágrimas a rasgarem-me a face sempre a arderem-me nos olhos equivocados
confesso: estive sempre embriagada, mas não era do doce vinho branco que te servia em copos de cristal que afinal não eram de cristal era de ti…

sexta-feira, 9 de março de 2007

Utopia


Absolut e Coincidências.

Traços...

Traços de luz, memórias de ti...
Por J.M.

segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Sentimento...


-"Continuarei sempre à espera de ti."

quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

King

Local de encontro com a Arte...livros, um café, um cigarro, um filme, a tua mão na minha...

-"Toma, leva todos os postais!"

O “Sentimento” cumpriu-se como um “paradoxo metafórico-figurativo” (palavras de outrém...) sobre nós. O King é uma entidade viva, desde a minha primeira vez intuiu o desfecho fatal.



domingo, 21 de janeiro de 2007

Ondas de Paixão

www.domomladine.org

Breaking the waves, Lars Von Trier, 1996

O Amor é maior do que a Vida.

Fanatismo

J.M., 1996

FANATISMO

Minh'alma, de sonhar-te, anda perdida
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão do meu viver,
Pois que tu já és toda a minha vida!

Não vejo nada assim enlouquecida...
Passo no mundo, meu Amor, a ler
No misterioso livro do teu ser
A mesma história tantas vezes lida!

Tudo no mundo é frágil, tudo passa...
Quando me dizem isto, toda a graça
Duma boca divina fala em mim!

E, olhos postos em ti, digo de rastros:
«Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio e Fim!...»

Florbela Espanca

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

Nos anéis de Saturno




-"Qual é o planeta dos anéis?"

-"Saturno."

-"É lá que estou!"